A sustentabilidade e a construção civil

0

Devido ao grande consumo de matérias retirados da natureza para serem utilizados na construção civil surge a necessidade de eliminar ou minimizar os impactos causados por essa extração, a busca por sistemas construtivos e matérias de baixo impacto cada vez mais está sendo presentes em obras civis para melhor adequar o custo benefício entre o conforto e o bem-estar com a natureza.

A construção civil encontra desafios em todas as etapas de uma obra, desde o projeto até a manutenção depois da obra concluída. Problemas esses que causam gastos excessivos, além de desperdícios de matérias e a poluição do meio ambiente.

O consumo atual de recursos naturais vem aumentando com o desenvolvimento econômico e o crescimento populacional, podendo chegar a 80t/hab por ano em países desenvolvidos (MATTHEWS et al., 2000). Estima-se que entre a metade a três quartos dos materiais extraídos da natureza retornam como resíduos, em um período de um ano (MATTHEWS et al., 2000).

Os resíduos oriundos da atividade de construção, reformas e demolições são representados por um número variável, cujo valor típico está em torno500kg/hab por ano (JOHN, 2000). Estes resíduos, em grande parte, são depositados em locais inadequados dentro dos centros urbanos, afetando o trânsito, sistemas de drenagem, e gerando focos de doenças ao serem depositados em terrenos baldios. A construção civil usa grande quantidade de materiais cerâmicos, cimento, aço, vidro, que são produzidos a alta temperatura, usando energia fóssil e, em algumas situações, lenha obtida de desmatamento ilegal. (Guia Selo Casa Azul – Caixa)

Estima-se que 97,5% da água existente no planeta seja salgada e imprópria para consumo e irrigação. Da parcela de 2,5% de água doce, cerca de 40%encontram-se presos nas geleiras, e boa parte do restante é umidade aprisionada no solo. Resulta que menos de 1% da água doce existente no planeta está disponível para o consumo dos ecossistemas (UNEP, 2002). Essa pequena porcentagem de água potável ainda sofre sérias perdas, devido à grande contaminação feita por esgotos domésticos, resíduos industriais e de matérias químicas utilizadas na construção.

A sustentabilidade e a construção civil

O grande consumo de energia elétrica e sua transmissão também contribuem para a geração de agentes poluidores do ar, e países que não possuem fontes renováveis de energia utilizam de fontes alternativas para sua produção, colaborando para o aumento da poluição ambiental.

O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU – (IPCC), alerta de que seria necessário reduzir, até 2050, no mínimo 50% das emissões globais de gases de efeito estufa, em relação às de 2000, para que o aumento da temperatura global média fique em torno de 2°C. Os países desenvolvidos deveriam assumir a liderança e reduzir suas emissões entre 25% e 40% abaixo dos valores de 1990, até 2020.

Sobre a aplicação das dimensões da sustentabilidade por profissionais e empresas do setor construtivo, sabe-se que, no Brasil, 82% dos profissionais possuem consciência sobre as questões da sustentabilidade; entretanto apenas 9% realmente já estiveram envolvidos ou colocaram em prática esses preceitos. (World Business Council for Sustainable Development – WBCSD, 2007).

A CONCEPÇÃO SUSTENTÁVEL

Na década de 70, quando a construção civil estava crescendo em grande escala, segundo dados do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES, 2002) e ao mesmo tempo em que a crise do petróleo afetava a economia mundial, criou-se a necessidade de racionalizar e de buscar fontes alternativas de energia, utilizando soluções que tivessem um baixo consumo energético. Com o desenvolvimento das cidades, ao longo dos anos, novas necessidades de racionalização foram sendo criadas como: a água, os resíduos, os poluentes atmosféricos entre outros.

O marco inicial da sustentabilidade começou com a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, também conhecida como conferencia de Estocolmo, realizada em junho de 1972 na Suécia, reunindo chefes de Estado para discutir e estabelecer princípios para as questões ambientais, incluindo direitos humanos, gestão de recursos naturais, prevenção da poluição e relação entre ambiente e desenvolvimento.

Em 1987 na Noruega, foi realizada a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (WCED, 1987), dando origem ao relatório “Nosso Futuro Comum”, conhecido como Relatório Brundtland. O relatório estabeleceu o conceito de sustentabilidade, em seus aspectos ambientais, econômicos e sociais. Nas décadas seguintes, grandes conferências mundiais foram realizadas, como a Rio 92, no Rio de Janeiro, em 1992, e a Rio+10, em Johannesburgo, em 2002. Nessas reuniões protocolos internacionais foram firmados, a fim de rever as metas e elaborar mecanismos sustentáveis.

A segunda conferência ambiental organizada pela ONU no Rio de Janeiro, também chamada de Eco 92, reuniu 108 chefes de Estado para criar um plano de ação para preservar os recursos naturais do globo. As nações do Norte tentaram defender o direito a um ambiente saudável. O resultado foi a Agenda 21, documento com 2500 recomendações para implantar estratégias para a conservação do planeta e estabelecer metas para a exploração sustentável do patrimônio natural, sem impedir, porém, o desenvolvimento de nenhum país, dando origem ao Protocolo de Kyoto (GUSTAVSEN, 2007).

O Protocolo de Kyoto representa a revolução entre a relação do meio ambiente com o desenvolvimento econômico, onde se tomaram medidas para redução de gás carbônico na atmosfera sem que a produção fosse afetada diretamente pelos países participantes que aderissem.

A Declaração de Política de 2002 da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em Johannesburg, afirma que o Desenvolvimento Sustentável é construído sobre “três pilares interdependentes e mutuamente sustentadores”: desenvolvimento econômico, desenvolvimento social e proteção ambiental.

TIPOS DE CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS

A poluição e o aquecimento global fazem com que cada vez mais pessoas se preocupem com os efeitos negativos causados pelo uso desenfreado dos recursos naturais. Por isso, a busca por diferentes formas de diminuir os impactos causadores da destruição do meio ambiente estão cada vez mais tornando comuns na sociedade atual.

Visando esta preocupação diversas formas sustentáveis são criadas em todo mundo a procura de sistemas construtivos que possam reduzir o acelerado consumo de matéria prima e os grandes desperdícios que tanto poluem nossas cidades, o Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica (IDHEA, 2007) cita algumas formas que já estão sendo aplicadas como minimizadores destes problemas; entre as mais difundidas se destacam:

A sustentabilidade e a construção civil

Construção com materiais sustentáveis industriais – São construções feitas com materiais produzidos industrialmente, com a finalidade de reduzir o consumo de recursos naturais, além de melhorar a eficiência e facilitar a utilização desses produtos.

Construção com materiais reutilizados – Construção onde a matéria prima é proveniente de resíduos de demolição de outras construções, que serão empregadas para gerar uma nova edificação, evitando o desperdício e ajudando a reciclagem desses materiais.

Construção (Earthship) –São construções que têm como objetivo utilizar materiais descartados e reutilizá-los para a fabricação de moradias. Garrafas PET, pneus, latas e outros materiais que possuem características que possam ser empregadas na construção são reciclados e utilizados.

Ecodesign –Tem a finalidade de fornecerá edificação um melhor aproveitamento das características locais como: o relevo, o solo, o clima; sempre buscando melhor a relação do bem estar com a natureza.

Construção natural – É o sistema construtivo mais ecológico, uma vez que integra a edificação com o ambiente natural e o modifica ao mínimo. Respeita o entorno e usa materiais disponíveis no local da obra ou adjacências (terra, madeira, pedra etc.); utiliza tecnologias sustentáveis de baixo custo e desperdiça o mínimo de energia em seus processos. Exemplos: tratamento de efluentes por plantas aquáticas, energia eólica por moinho de vento, tijolos de solo-cimento e etc.

A escolha de materiais, que busquem minimizar os principais efeitos da poluição em nosso planeta, deve ser empregada com maior frequência, pois em sua fabricação estão as maiores contribuições de poluentes para a atmosfera; por isso, a sociedade deve tomar conhecimento sobre os benefícios da utilização de materiais naturais e o reaproveitamento dos que já estão em circulação. Muitos outros métodos estão sendo aos poucos empregados, aumentando cada dia mais, o número de pessoas que se utilizam dos sistemas sustentáveis (DIAS, Reinaldo, 2007).

DIRETRIZES DAS CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS

A crescente conscientização de que não é possível haver crescimento econômico e populacional infinito em um planeta de recursos naturais finitos tornou evidente a necessidade de construção de um novo modelo de desenvolvimento, o qual deve ser orientado pelas ideias sintetizadas no conceito do Desenvolvimento Sustentável: um desenvolvimento que atende às necessidades do presente, sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades (Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento CMMDA, 1988).

A Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura – (ASBEA, 2016) e o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável – CBCS apresentam diversos princípios básicos da construção sustentável, dentre os quais se destacam:

  1. Aproveitamento de condições naturais locais;
  2. Utilização mínima de terreno e integrar-se ao ambiente natural;
  3. Implantação e análise do entorno;
  4. Não provocar ou reduzir impactos no entorno – paisagem, temperaturas e concentração de calor, sensação de bem-estar;
  5. Qualidade ambiental interna e externa;
  6. Gestão sustentável da implantação da obra;
  7. Adaptação às necessidades atuais e futuras dos usuários;
  8. Uso de matérias-primas que contribuam com a ecoeficiência do processo;
  9. Redução do consumo energético;
  10. Redução do consumo de água;
  11. Redução, além de reutilizar, reciclar e dispor corretamente os resíduos sólidos;
  12. Introduzir inovações tecnológicas sempre que possível e viável;
  13. Educação ambiental com a conscientização dos envolvidos no processo.

 

A sustentabilidade e a construção civil

ISO 26.000

No dia 1º de novembro de 2010, em Genebra-Suíça, foi publicada a Norma Internacional ISO 26000 – Diretrizes sobre Responsabilidade Social. No dia 8 de dezembro de 2010, foi aplicada a versão em português da Norma no Brasil, a ABNT NBR ISO 26000.

Segundo a (ISO 26000, 2010) a responsabilidade social se expressa pelo desejo e pelo propósito das organizações em incorporarem considerações socioambientais em seus processos decisórios e a responsabilizar-se pelos impactos de suas decisões e atividades na sociedade e no meio ambiente. Isso implica um comportamento ético e transparente que contribua para o desenvolvimento sustentável, que esteja em conformidade com as leis aplicáveis e que seja consistente com as normas internacionais de comportamento. Também implica que a responsabilidade social esteja integrada em toda a organização, seja praticada em suas relações e leve em conta os interesses das partes envolvidas.

A Norma fornece orientações para todos os tipos de organização, independentemente de seu porte ou localização, sobre:

  1. Conceitos, termos e definições referentes à responsabilidade social;
  2. Histórico, tendências e características da responsabilidade social;
  3. Princípios e práticas relativas à responsabilidade social;
  4. Os temas centrais e as questões referentes à responsabilidade social;
  5. Integração, implementação e promoção de comportamento socialmente responsável em toda a organização e por meio de suas políticas e práticas, dentro de sua esfera de influência;
  6. Identificação e engajamento de partes interessadas;
  7. Comunicação de compromissos, desempenho e outras informações referentes à responsabilidade social.

A ISO 26000:2010 é uma norma de diretrizes e de uso voluntário; não visa nem é apropriada a fins de certificação. O poder público deve desenvolver políticas públicas e ampliar a implementação de programas de gestão de resíduos e de saneamento, incentivando a participação de toda a sociedade nas aplicações destes programas.

Deixe uma resposta